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sábado, 2 de julho de 2011

A importância da infância

                                                                    

Como vimos o sentimento de infância presente na sociedade moderna, nem sempre recebeu muita importância, de modo que durante a idade média, inexistia um sentimento de infância e ainda menos de adolescência. Até o século XVIII a adolescência foi confundida com infância. A criança era vista como adulto em miniatura e logo que apresentava algum desenvolvimento misturava-se ao mundo dos adultos, participando das mesmas atividades como festas, jogos e brincadeiras. Nessa época a família não tinha função afetiva, sendo que na Idade Média ''era muito mais uma realidade moral e social que sentimental". Assim, como dito antes, as crianças não tinham valor, pois a infância era desconhecida, sendo só um período de transição, tanto que o número elevado de óbitos de crianças acontecia sem muito lamento pela perda, já que o índice de natalidade também era elevado. Era presente o sentimento de que a reprodução era para que se tivesse várias crianças, de modo que algumas delas pudessem ser conservadas, preservando-se, assim, a ideia da procriação (reforçando a inexistência de um sentimento pela infância na época).

A partir do século XVII, começamos a perceber um novo sentimento em relação à infância, reconhecendo-se na criança uma personalidade e a alma infantil, sob influência direta da cristianização dos costumes. Desde então, a criança começou a ser representada sozinha, sendo destacado pelo autor o ''Putto'', a criancinha caracterizada pelos pintores do final do século XVI.

As crianças se vestiam como adultos.


A evolução do sentimento da infância também pode ser percebida na análise dos trajes, jogos brincadeiras, noções de sexualidade e escolaridade. Na Idade Média, o traje da época denunciava o quanto à infância era então pouco particularizada na família, pois o traje nada separava a criança do mundo do adulto. Segundo Ariès "assim que a criança deixava os cueiros, ou seja, a faixa de tecido que era enrolada em torno do seu corpo, ela era vestida como os outros homens e mulheres de sua condição". Tal fato torna-se compreensível frente à inexistência de um sentimento de infância. Diante da concepção de criança que se tinha na época não havia porque existir preocupação relativa ao conforto e ao próprio mundo infantil. As análises de Ariès para justificar sua tese da ausência do conceito de infância basearam-se, também, nos apanhados do diário de um francês chamado Heroard, médico do rei Henrique IV, e este último, pai do príncipe Luis XIII (1610-1643). Este príncipe, foi alvo de detalhados relatos no diário do médico, onde descrevia minimamente os fatos cotidianos da vida do chamado pequeno infante. Um leitor moderno do diário em que Heroard anotava os fatos corriqueiros da vida do jovem Luis XIII pode ficar confuso diante da liberdade com que se tratavam as crianças, da grosseria das brincadeiras e da indecência dos gestos cuja publicidade não chocava a ninguém e que, ao contrário, pareciam perfeitamente naturais. Nenhum outro documento poderia dar-nos uma idéia mais nítida da total ausência do sentimento moderno da infância nos últimos anos do século XVI e início do XVII.

Há constatações, que remetem aqueles que se interessam pela temática do surgimento do sentimento de infância, a um aprofundamento mais específico nessas questões discutidas aqui. Exemplo disto é a conclusão, feita por Ariès de que não havia entendimento de que a infância tinha especificidades. Outra constatação importante feita é a de que foi após o surgimento da escola que se colocou em pauta com mais veemência questões específicas sobre a essa fase da vida, que hoje consideramos tão importante quanto a juventude.

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